quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Uma visão prospectiva da actividade docente

Mestrado em Ciências da Educação – UCP – Porto 2010-2011 – Prof. Luísa Orvalho

Orvalho, L. (2010). Culturas profissionais. FEP/UCP. (Texto em PDF)


Como é que os professores deveriam organizar o trabalho de ensinar e aprender no contexto escolar? E porquê?

A realização deste trabalho implica que apresentemos uma visão prospectiva da actividade a desenvolver em anos vindouros e os aspectos a corrigir ou melhorar na organização do trabalho escolar na nossa escola.
Após a leitura deste texto em particular, e uma vez que as tipologias de culturas profissionais docente de Hargreaves (1992, 1994) me suscitaram imediatamente o interesse, creio que um dos aspectos a melhorar no campo supracitado é, sem dúvida, a colaboração.
Segundo Hargreaves (1998), a colaboração promove o desenvolvimento profissional dos indivíduos nela envolvidos, podendo proporcionar momentos de aprendizagem mútua e potenciar reflexões individuais. Uma outra mais valia da colaboração reside no facto de os grupos poderem ser constituídos por vários indivíduos com experiências diferentes e com competências diversificadas permitindo uma maior eficácia das soluções encontradas. No entanto, a colaboração considerada como uma estratégia para o desenvolvimento de actividades na área da educação em variadíssimos aspectos, não deixa de envolver alguns problemas e dificuldades.
Ainda de acordo com Hargreaves (1998), a colaboração e a colegialidade ocupam um lugar central no paradigma de mudança, uma vez que permitem aos professores aprender uns com os outros numa partilha de saberes e ampliar o conjunto das suas competências, fomentando o desenvolvimento profissional e organizacional.
O nosso trabalho de professor é, sem dúvida, um trabalho solitário e de “porta fechada”, uma vez que, e apesar de planificarmos em conjunto ao nível do nosso grupo disciplinar, acabamos por ser o gestor do nosso próprio trabalho e do trabalho que desenvolvemos com os nossos alunos na sala de aula.
A colaboração está alicerçada em quatro pilares que a sustentam enquanto processo efectivo: diálogo, negociação, mutualidade e confiança. Se não existir uma negociação relativamente aos objectivos do trabalho, à forma como este se vai desenvolver, às prioridades a serem colocadas em prática e à forma como os intervenientes se relacionam, poderão surgir mais tarde momentos de tensão e de crise que podem deitar por terra os propósitos iniciais de determinado projecto.
É essencial que o diálogo, instrumento de confronto de ideias e construção de novas compreensões, se estabeleça entre todos os intervenientes pois deste modo cada um poderá participar activamente em cada projecto. Num trabalho colaborativo todos devem ter algo a dar e a receber, uma vez que os participantes ao serem detentores de papéis diferentes não quer forçosamente dizer que sobressaem uns em relação aos outros, mas que existe sim mutualidade entre todos. A colaboração deve desenvolver-se num clima de confiança uma vez que esta é importante para que todos se sintam à vontade para questionar as ideias, as acções e os valores uns dos outros. Este clima de confiança manifesta-se pelo respeito pessoal e profissional de todos os intervenientes, valorizando todos e fazendo-os sentir-se, efectivamente, como elementos do grupo. É da articulação entre eles que se pode esperar alcançar as finalidades inicialmente propostas, de uma forma positiva e que proporcione a todos os colaboradores experiências enriquecedoras e frutuosas que contribuam para potenciar as especificidades individuais, o desenvolvimento profissional e pessoal e o desenvolvimento de competências de natureza diversa, uma vez que a colaboração potencia uma reflexão efectiva ao longo de todo o processo.
Existem, no entanto, dificuldades inerentes ao trabalho em colaboração das quais podemos salientar:
·      os intervenientes terão que saber lidar com a imprevisibilidade característica de um processo desta natureza, que por não poder ser planificada ao pormenor necessita de ser renegociada a qualquer momento. Esta renegociação pode reclamar a alteração dos papéis inicialmente previstos para cada um dos participantes. Esta imprevisibilidade está relacionada com o carácter dinâmico e mutável do processo de colaboração;
·      outra das dificuldades passa pela gestão das diferenças de métodos de trabalho e das expectativas devido às experiências e hábitos de trabalho de cada um dos intervenientes. Estes podem ter estatutos diferentes, objectivos pessoais próprios, percepções divergentes e prioridades distintas, sendo estes aspectos desencadeadores de tensões que terão que ser geridas e ultrapassadas pelo grupo através de uma negociação eficaz e que assente num diálogo contínuo, fortalecendo-se a relação de confiança, promovendo a igualdade e a mutualidade entre os diversos intervenientes;
·      para que o processo seja satisfatório é necessário contrariar a desigualdade entre os custos e os benefícios. Os possíveis participantes num processo de colaboração poderão abandonar os projectos, ou nem sequer os iniciar, por sentirem que os benefícios decorrentes desse envolvimento não correspondem aos seus anseios profissionais ou pessoais;
·      quanto ao conformismo que pode, por vezes, apoderar-se dos participantes é fundamental que os restantes elementos do grupo estejam atentos para que se ultrapassem conjuntamente estes sentimentos que podem colocar em risco o sucesso do processo colaborativo. Estas dificuldades podem ser solucionadas com uma negociação cuidada e um diálogo contínuo, de modo a que as relações de confiança que se foram estabelecendo no grupo sejam continuamente reforçadas favorecendo a autoconfiança de todos.



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