terça-feira, 20 de abril de 2010

Aprender a aprender

Ouvi esta expressão, pela primeira vez, há pouco mais de um ano quando iniciei a minha profissionalização em serviço. Apesar de ser um conceito inerente à minha profissão e algo com que sempre me preocupei em colocar em prática, a sua verbalização mostrou-me um mundo novo de possibilidades e desafios tanto para mim como para os meus alunos.

A acção de aprender implica uma vontade de aprender, um gostar de aprender e um saber aprender. É necessário estabelecer os objectivos, desenvolver as atitudes adequadas face ao objecto de aprendizagem, realizar o tratamento de informação, reflectir sobre o que vai sendo feito e sobre o que é alcançado. Na impossibilidade de saber tudo, teremos que fazer uma selecção do conhecimento que melhor se adequa aos nossos objectivos, aproveitando o facto de que o homem ser o sujeito da sua própria aprendizagem. O que se constrói de novo está ancorado em conhecimentos anteriores através da capacidade de associação, integração, ligações e organização dos dados recolhidos.

Como aprender a aprender?

Uma das condições para ensinar os alunos a aprender de forma a que continuem a aprender vida fora, é ajudá-los a tomar consciência do que sabem. O professor deve não só acreditar que os alunos têm conhecimentos e condições necessárias para aprender, como também explicitar isso nas suas atitudes. Essa tarefa pode ser realizada planificando actividades em que os alunos se imiscuem para desenvolverem e aplicarem conhecimentos.

O professor deverá ajudar os alunos a estabelecer relações entre o que já aprenderam e o que estão a aprender, criando na sala de aula um ambiente favorável à troca de ideias, propondo constantemente questões que possibilitem aos alunos reflectir sobre o que sabem e o que estão a aprender. Formular perguntas é uma condição fundamental para se continuar a aprender fora da escola. O professor deve ajudar os alunos a estabelecer uma relação entre o que sabiam ou pensavam saber, o que querem saber e o que o docente quer que eles saibam. Por ser uma condição em que se adquirem novas informações, a formulação de perguntas deve ser realizada sistematicamente e não só no início do desenvolvimento do estudo. Ter consciência de que esse é o primeiro passo para a busca de respostas e de novos conhecimentos é um conteúdo fundamental que a escola deve ensinar.

O papel do professor passa por ensinar a aprender e não a decorar. A educação deverá ser algo para a vida toda. Implica uma busca constante de conhecimento uma vez que o mundo é dinâmico e único em cada momento.

"Os professores ideais são os que se fazem de pontes, que convidam os alunos a atravessarem, e depois, tendo facilitado a travessia, desmoronam-nas com prazer,
encorajando-os a criarem as suas próprias pontes."
Nikos Kazantzakis

Aprender e ensinar constituem duas actividades muito próximas da experiência de qualquer ser humano: aprendemos quando introduzimos alterações na nossa forma de pensar e de agir e ensinamos quando partilhamos com o outro ou com o grupo a nossa experiência e os saberes que vamos acumulando.

A motivação tem um papel preponderante na educação, cabendo ao professor identificar as experiências que desencadeiam no sujeito uma predisposição para aprender. Nas crianças há uma necessidade intrínseca para aprender mas esta orientação é, no entanto, afectada por variáveis de natureza cultural, motivacional e pessoal. A classe social de pertença determina disponibilidades diferentes face à actividade intelectual que interferem no uso da mente. Algumas tradições culturais estimulam mais o aprender do que outras. O processo de educação é, por isso, essencialmente social, marcado pela inter-relação professor-aluno e aluno-alunos. O grande objectivo da escola deveria passar pela equação de como atingir objectivos educativos a partir de um determinado padrão cultural, recorrendo à exploração de alternativas, garante de uma motivação para a aprendizagem a longo prazo.

O objectivo da educação será conduzir o aluno através de proposições, veiculando informação com uma determinada sequência para atingir os conhecimentos ou a compreensão do problema, aumentando a sua capacidade de alcançar, transformar e transferir o que aprende. A sequencialidade facilita o domínio do tema, mas não pode ser algo rígido porque depende de muitos factores, inclusive de diferenças individuais, de aprendizagens anteriores e do estádio de desenvolvimento.

A actividade de aprendizagem é também orientada pelo conhecimento dos resultados. O processo de ensino deve assegurar uma informação positiva ou uma correcção no tempo certo. Tanto a aprendizagem como a solução de problemas podem ser repartidos por fases e a informação de avaliação deverá respeitá-las. Para além da oportunidade no tempo, o reforço deve ser dado de forma que o aluno o entenda sem ambiguidades. Sendo que um dos objectivos do processo de educação é a crescente autonomia do aluno, o professor deve orientá-lo para assumir gradualmente a sua auto-correcção.

Ensinar, hoje, deveria consistir em conceber, encaixar e regular situações de aprendizagem seguindo os princípios pedagógicos activos e construtivistas. Para os professores adeptos de uma visão construtivista e de inclusão da aprendizagem, trabalhar no desenvolvimento de competências não é uma ruptura. (Perrenoud, 2000)

O bom professor deve ser competente tecnicamente, competente pedagogicamente e competente emocionalmente.


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