terça-feira, 20 de abril de 2010

Uma perspectiva de professor eficaz para o século XXI


Uma perspectiva de professor eficaz para o século XXI

Palavras-chave: Competências; Reflexão; Aprender

Que competências deve o novo professor dominar? Que desafios se colocam à profissão de docente neste século de mudanças, de informação, de procura? O que identifica um professor eficaz?

Estas são algumas das questões para as quais considero pertinente obter respostas.

Richard Arends (americano, antigo Professor de Educional Leadership na Central Connecticut State University entre outros cargos) dá-nos algumas pistas para estas questões:

. os professores eficazes possuem qualidades pessoais que lhes permitem desenvolver relações humanas genuínas com os intervenientes no processo educativo;

. os professores eficazes têm uma disposição positiva em relação ao conhecimento;

. os professores eficazes têm um repertório de práticas de ensino que estimulam a motivação dos alunos;

. os professores eficazes têm uma disposição pessoal para a reflexão e a resolução de problemas. A aprendizagem do ensino é encarada como um processo ao longo da vida;

. os professores eficazes preocupam-se com a justiça social e a equidade.

Philippe Perrenoud (sociólogo suíço, professor na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Genebra) considera a existência de 10 domínios de competências cruciais na profissão do docente actual (algumas delas constituem conceitos novos, outras foram adquirindo uma importância crescente em função das transformações existentes nos sistemas educativos) que deveriam ser consideradas prioritárias na formação contínua dos professores:

1. organizar e estimular situações de aprendizagem;

2. gerar a progressão das aprendizagens;

3. conceber e fazer com que os dispositivos de diferenciação evoluam;

4. envolver os alunos nas suas aprendizagens e no trabalho;

5. trabalhar em equipa;

6. participar na gestão da escola;

7. informar e envolver os pais;

8. utilizar as novas tecnologias;

9. enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão;

10. gerar a sua própria formação contínua.

Tendo em conta estas novas posições, torna-se necessário reflectir sobre duas considerações:

1. reconhecer que os professores não possuem apenas saberes mas também competências profissionais que não se reduzem ao domínio dos conteúdos a serem ensinados;

2. aceitar a ideia de que a profissão muda e que a sua evolução exige que todos os professores possuam novas competências antes reservadas aos inovadores ou aos professores que precisavam lidar com os públicos mais difíceis.

Os professores necessitam desenvolver um perfil de competências que lhes permita não só diagnosticar, acompanhar e avaliar, mas também criar os seus próprios materiais e ferramentas de ensino. A sua colaboração na criação de uma nova situação educacional é indispensável e deve promover essa construção realizada pelo aluno através de uma pedagogia activa, criativa, dinâmica, encorajadora, apoiada na descoberta, levando-o a aprender a pensar e a preparar-se para aprender a investigar, a trabalhar em grupo, a dominar diferentes formas de acesso às informações, a desenvolver a capacidade crítica de avaliar, reunir e organizar informações mais relevantes. Resumindo, esta metodologia deverá permitir ao aluno não só a apropriação do conhecimento mas também a sua utilização criativa e crítica.

Em “O Professor Aprendiz”, é referida a tendência de que as escolas irão evoluir para a substituição das pedagogias discursivas pelas vivenciais, apetrechando-se de recursos diversificados e instrumentos de trabalho actualizados, desencadeando um processo para o desenvolvimento de competências pessoais, factor-chave no desenvolvimento e na adaptação à evolução acelerada da sociedade. Um dos elementos mais importantes deste processo é, obviamente, o professor que o será através da sua capacidade imaginativa e actuação estratégica para intervir nesta evolução. Através do investimento contínuo na formação docente, é possível apreender novas competências, descobrir novas necessidades, equacionar novos problemas e procurar novas respostas.

O conceito emergente de organização aprendente (Iearning organization), implica que a escola está atenta ao que se passa dentro e fora dela, ouve todos os seus colaboradores internos e externos e acompanha a evolução da sociedade. Hoje, as escolas inovadoras desenvolvem métodos e estruturas pedagógicas que incidem no trabalho em equipa como a unidade básica de aprendizagem como reflexo da necessidade de preparar os alunos para um futuro colaborativo e em que a capacidade de trabalhar em equipa será uma competência matricial relevante.

A escola deve ajudar os alunos a aprender a aprender, incutindo-lhes o desejo de uma formação permanente, desenvolvendo neles o espírito empreendedor e a capacidade de procurar a informação, assim como a motivação para o desenvolvimento de competências pessoais/relacionais de eficácia alargada. O papel do professor consistirá em ajudar, conduzir, dar o exemplo, incentivar, facilitar e integrar aprendizagens assistidas e autónomas com recurso à diversidade de meios de acesso à informação e ao conhecimento.

As qualidades-chave e as competências fundamentais dos professores, entre outras, deverão passar por serem:

. líderes de aprendizagem e, simultaneamente, aprendizes durante toda a vida;

. promotores de equipas de aprendizagem;

. líderes de inovação nas escolas e na sociedade;

. flexíveis e adaptáveis a novas situações;

. inovadores, empreendedores e capazes de aceitar positivamente a mudança;

. abertos às necessidades dos alunos, dos colegas e da comunidade;

. colaboradores e criadores, conjuntamente com colegas e alunos;

. promotores de um saber transdisciplinar.

O futuro trabalhador da nova sociedade deverá ser capaz de:

. criar sinergias, adaptar, associar e sintetizar os seus conhecimentos;

. utilizar os conhecimentos para resolver qualquer tipo de problema num curto espaço de tempo;

. controlar situações e gerir o seu tempo;

. ser adaptável a situações imprevisíveis, controlar acontecimentos fortuitos, tomar iniciativas, escolher e tomar decisões;

. estar bem informado sobre linguagens simbólicas (ler e interpretar dados sob forma de sinais, símbolos, códigos, diagramas, etc.);

. trabalhar em equipa, comunicar, colaborar e participar num esforço colectivo.

Tendo em conta o novo perfil do trabalhador, a escola deverá proporcionar aos alunos oportunidades para:

. aprender a aprender;

. apreender a complexidade da realidade;

. participar em processos sociais de reestruturação;

. desenvolver a capacidade de aceitação da mudança de actividade com facilidade, visto a mobilidade profissional ser uma característica da nova sociedade.

De acordo com as realidades enumeradas atrás, o professor do século XXI deverá ser capaz de:

. aprender a aprender;

. avaliar as situações;

. rever o seu próprio papel;

. reconhecer os erros e corrigi-los;

. cooperar com a incerteza;

. transformar as limitações em recursos;

. ser flexível;

. ter consciência das necessidades;

. saber comunicar;

. tomar iniciativas;

. ser inovador;

. resolver conflitos;

. cooperar;

. ser crítico e profissional no seu trabalho;

. ter em consideração todas as dimensões.

__________

Arends, R. I. (2008). Aprender a ensinar, Madrid: Mcgraw Hill Interamericana de Espanha, S.A.U.

Participantes, E. I. d. P. (1995). O Professor Aprendiz, Programa Europeu PETRA II, Acção II.


Nenhum comentário:

Postar um comentário